Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção

Esta imagem pretende representar uma paciente com Défice de Atenção e Hiperactividade.

Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção

As pessoas com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção têm dificuldade em gerir o seu tempo e cumprir as suas actividades no tempo pedido. Muitas vezes parecem pessoas desorganizadas e sem disciplina.

Mas nem sempre o que parece é.

Por vezes, por detrás deste tipo de dificuldades há um enorme esforço em se manterem concentrados, tomam notas e criam rotinas para minimizarem a sua dificuldade em se recordarem do que há para fazer e, mesmo assim, acabam frequentemente por falhar.

Podem tornar-se pessoas muito ansiosas e acabar em Depressão.

Frequentemente estes problemas começam na infância, mas podem passar despercebidos até à idade adulta.

A PHDA no Adulto

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento que surge na primeira infância.

É a doença neuropsiquiátrica com maior taxa de incidência na infância, sendo que em média uma em cada 20 crianças sofre deste problema.

Tradicionalmente era vista como uma doença que afetava apenas as crianças e adolescentes, a sua apresentação na idade adulta era pouco valorizada.

Contudo, tratando-se de uma doença neuropsiquiátrica de carácter crónico, ela não desaparece milagrosamente com a entrada na idade adulta!

A verdade é que em alguns casos os sintomas tornam-se mais discretos com a idade e interferem menos no funcionamento global da pessoa, perdendo relevância no que se refere ao nível de perturbação que provoca. No entanto, numa grande percentagem de casos (65% dos casos diagnosticados na infância, ou 4% de toda a população adulta) a PHDA mantém a sua gravidade durante a idade adulta, tornando-se incapacitante quando não é devidamente tratada.

Que sintomas estão associados à PHDA no adulto?

  • Esta doença caracteriza-se pela presença de alterações do funcionamento cerebral e cognitivo, com manifestações de 2 grandes tipos:
      • A diminuição da capacidade de atenção/concentração e
      • A diminuição da capacidade de regulação, com agitação e impulsividade.

O adulto com A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção luta para conseguir manter uma boa gestão das suas rotinas e atividades do dia-a-dia, quer na esfera pessoal, quer na esfera profissional.

Muitas vezes, quem sofre desta Perturbação:

– Atrasa-se sistematicamente, não conseguindo cumprir horários ou prazos

– Não consegue iniciar tarefas que tinha planeado fazer

– Custa-lhe muito manter-se focado numa tarefa durante um período prolongado, deixando tarefas a meio e saltando de tarefa em tarefa sem conseguir concluir nenhuma

– Quando está em situações de imobilidade (como no cinema, nas aulas ou numa reunião) sente grande agitação motora, precisando muitas vezes de se remexer na cadeira, ou mesmo levantar-se

– Custa-lhe ter que esperar pela sua vez numa fila, ficando tenso e inquieto

– Sente-se facilmente frustrado

– Tem demasiados conflitos nas suas relações pessoais (ou mesmo profissionais), por agir de forma impulsiva e “falar antes de pensar”

– Toma decisões de forma irrefletida e frequentemente arrepende-se

Com frequência a PHDA não vem sozinha: surgem com ela sintomas depressivos e de ansiedade.

Muitas vezes quem sofre desta patologia nunca foi diagnosticado e acredita que as causas do seu baixo sucesso académico, profissional ou social estão relacionadas com as suas características de personalidade, com algum “defeito” pessoal, ou com falta de inteligência. A sua autoestima fica fragilizada, surgem sentimentos de insegurança e falta de autoconfiança, que recorrentemente desencadeiam quadros depressivos ou de ansiedade.

É essencial uma história clínica detalhada, pesquisando os sintomas sugestivos desta doença. 

É sempre importante pedir uma Avaliação Neuropsicológica que pode, de forma objectiva, identificar o compromisso cognitivo e quantificá-lo.

O que provoca a Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção: Mitos e Ciência

Têm surgido na opinião pública algumas crenças erradas acerca das causas desta doença:

Importa antes de mais esclarecer que ela não deriva problemas familiares ou sociais, de más práticas parentais, do consumo excessivo de açúcar, nem da exposição aos ecrãs, ou a conteúdos violentos.

A ciência tem demonstrado que o seu desenvolvimento é desencadeado por alterações no funcionamento neurológico, resultantes de uma conjugação de fatores:

  • Genéticos (através da transmissão de pais para filhos de uma combinação de genes que, quando associada, aumenta a probabilidade de desencadear a doença).
  • Bioquímicos (desequilíbrios ao nível dos neurotransmissores da dopamina, serotonina e noradrenalina têm sido observados em pessoas que sofrem de PHDA),
  • Ambientais (complicações na gravidez, exposição ao chumbo na primeira infância e mais raramente danos cerebrais)

O tratamento funciona?

O tratamento com psicofármacos que atuam ao nível da estimulação do Sistema Nervoso Central (melhorando o funcionamento bioquímico dos neurotransmissores acima enunciados), frequentemente melhora de forma significativa a qualidade de vida do doente, na medida em que potencia a sua capacidade de se focar nas suas tarefas, tendendo a aumentar a sua produtividade.

Paralelamente, na Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção, a Psicoterapia, nomeadamente a de orientação Cognitivo-Comportamental, tem apresentado resultados animadores no que concerne a redução do sofrimento subjetivo da pessoa e a melhoria do seu funcionamento e bem-estar global.

A evidência científica tem demonstrado que os pacientes que beneficiam deste tipo de terapia conseguiram melhorias importantes em diversas áreas:

  • Capacidade de gestão de tempo, planeamento, organização e execução de tarefas
  • Memória, atenção e concentração
  • Motivação e gestão de recompensas
  • Capacidade de escolha e tomada de decisões
  • Autorresponsabilização, autoconceito e autoestima
  • Crenças e expectativas positivas em situações de desempenho
  • Gestão emocional e controlo de impulsos
  • Satisfação académica e profissional
  • Relacionamentos interpessoais

Psicoterapia? Mas não bastará diagnosticar e medicar?

Psicoterapia? Mas não bastará diagnosticar e medicar?

Na grande maioria dos casos, não basta saber que se sofre da doença e fazer a respetiva medicação.

Tratando-se de uma doença crónica, muitas vezes quando é diagnosticada o doente já desenvolveu um conjunto de crenças e expectativas negativas relativamente a si mesmo, ao mundo e aos outros, que se transformaram nas suas regras para a vida. Estas regras orientam-no no sentido de manter os padrões instalados pela disfunção que a doença provocava.

Assim, há tarefas que precisam de se cumprir para que a mudança destes padrões ocorra e possa começar a funcionar de maneira diferente e é aqui que a Psicoterapia fará a diferença:

Primeiro que tudo integrar/aceitar que sofre de uma doença e compreender de que maneira esta o condiciona.

Uma das tarefas mais importantes é ajudar o paciente a perceber o impacto desta doença na sua performance profissional, e desconstruir a imagem de incompetência pessoal que foi construindo ao longo dos anos.

Por outro lado, é importante aprender a reconhecer as suas aptidões/qualidades e reaprender como pô-las em prática para compensar as dificuldades que a doença lhe impõe.

Terá também a oportunidade de aprender um conjunto de técnicas/ferramentas práticas que poderão facilitar a sua adaptação e a compensação destas limitações.

Por fim, mobilizar estas aprendizagens e colocá-las em marcha.

Em suma:

Se foi diagnosticado com Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção saiba que há tratamentos cuja eficácia tem vindo a ser cientificamente demonstrada e que lhe permitirão manter uma vida mais equilibrada.

Gisela Gracioso

Gisela Gracioso

Psicóloga Clínica
Psicoterapeuta

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