Perturbação Obsessivo-Compulsiva – O que é? Quais os tratamentos disponíveis?

Mulher presa e espartilhada simbolizando as limitações causadas pela perturbação obsessivo-compulsiva

Perturbação Obsessivo-Compulsiva - O que é e quais são os seus sintomas?

    A característica essencial da Perturbação Obsessivo-Compulsiva consiste na presença de obsessões e/ou compulsões, podendo associar-se a preocupação com o perfecionismo, com a ordem, controlo mental e interpessoal.

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva caracteriza-se pela presença de obsessões e compulsões.

 

As obsessões descrevem-se como sendo pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes, intrusivos e persistentes, causando elevados níveis de ansiedade e dúvidas. Exemplos: contaminação; dúvida permanente; preocupações somáticas; agressividade.

 

As compulsões são comportamentos repetitivos, como por exemplo: organizar, lavar, verificar, ou atos mentais como rezar, contar ou repetir palavras em silêncio. Estas regras autoimpostas pretendem minimizar, evitar o sofrimento e também uma situação temida que poderá acontecer caso não sejam realizados. Exemplos mais comuns: verificação; lavagem; contagem, simetria e precisão.

 

Na Perturbação Obsessivo-Compulsiva estas atingem um impacto significativo da vida pessoa, com consumo de horas ou com sofrimento psíquico associado. Embora antes se achasse que era uma doença relativamente rara, hoje sabemos que pode afectar até 1-2% da população ao longo da vida. Geralmente tem início precoce, na adolescência ou início da vida adulta, mas pode surgir em qualquer altura.

 

Perturbação Obsessivo-Compulsiva — Exemplo de um caso clínico

Henrique, 26 anos, casado, empregado de escritório, veio à consulta com a esposa.

Henrique descreve o seu problema:

“Comecei a ter estas cismas quando entrei para esta nova empresa.

Vinham-me pensamentos de que se eu entrasse ou saísse do banho com o pé esquerdo, o dia iria correr mal e a minha família poderia correr perigo.”

— Que tipo de perigo?

“Não sei! Era uma ideia que me vinha e eu achava aquilo uma tolice, mas aquela ideia vinha uma vez, duas vezes, três vezes ou trinta vezes! E só acalmava se eu voltasse à casa de banho e entrasse lá novamente, mas desta vez com o pé direito e saísse de lá também com o pé direito.

Eu pensava que estava maluco!

E se não fizesse aquilo eu ficava com esta ansiedade no peito que não podia!

Tinha que lá voltar e repetir. E depois voltava para a minha secretária.

Mas a dado momento, eu voltava para a minha secretária e ficava a duvidar se tinha feito corretamente ou não! Tinha acabado de repetir, mas ficava na dúvida à mesma!

E tinha de lá voltar outra vez!

A dado momento os colegas repararam e começaram a gozar comigo e diziam: ‘Deves lá ter algum tesouro! Tens a tua namorada na casa de banho!’ E por aí adiante!

Eu ficava envergonhadíssimo e sofria horrores com aquilo, porque passava o dia a repetir ou a duvidar se tinha repetido como deve de ser! Não conseguia concentrar-me no meu trabalho!”

A esposa acrescentou:

“Em casa é a mesma coisa, mas à noite também anda sempre a ver sem o gás está fechado ou se a porta da rua ficou fechada.

Teve de ir dormir para o sofá porque estava sempre a acordar-me!”

Henrique diz que o patrão o chamou e lhe disse que se não se tratasse tinha de o despedir.

NOTA — Este caso clínico é fictício, mas serve para explicar algum do sofrimento que esta doença pode causar.

Perturbação Obsessivo-Compulsiva — Factores de Risco Associados

De acordo com os estudos continuamente realizados à cerca da doença “Perturbação Obsessivo-Compulsiva”, existem alguns indicadores que indicam uma maior prevalência de se sofrer desta doença., a citar:

  • Genética — Vários estudos indicam que os familiares em primeiro grau de pessoas com POC têm maior probabilidades de ter a doença;
  • História pessoal – A presença de abuso físico ou sexual ou de outro trauma durante a infância desenvolve o risco da patologia se manifestar.

Perturbação Obsessivo-Compulsiva — O Estigma

Frequentemente, as pessoas com esta doença são incompreendidas e, muitas, vezes discriminadas.

Podem ser alvo de chacota e serem apelidadas de “malucas”.

Mas, de facto, com um tratamento adequado, conseguem levar uma vida normal e produtiva, como qualquer outro ser humano.

Damos aqui o exemplo de várias pessoas famosas e bem sucedidas que sofrem desta doença.

 

Kate Perry – Cantora e compositora

Leonardo DiCaprio – Actor

Justin Timberlake – Actor, cantor e compositor

Howie Mandel – Comediante

Howard Stern – Personalidade da Radio

David Beckham – Futeboliusta

Amanda Seyfried – Actriz

Lena Dunham – Actriz

Nikola Tesla – Inventor

Charlize Theron – Actriz

Frank Sinatra – Actor e cantor

Cameron Diaz – Actriz

Bill Bob Thornton – Actor, cantor e compositor

Fred Durst – Rapper americano

Howard Hugues – Magnata, Produtor de Cinema, Aviador

Tim Howard – Futebolista

Marc Summer – Personalidade da TV americvana

Martinho Lutero – Padre, teólogo e compositor

Charles Darwin – Naturalista, Biólogo e Geólogo

Samuel Johnson – Escritor Inglês

Pessoas famosas e bem sucedidas com Perturbação Obsessivo-compulsiva

Em Portugal, o actor e comediante António Raminhos assumiu publicamente ter esta doença, o que contribuiu para uma melhor compreensão e aceitação dos pacientes que sofrem de Perturbação Obsessivo-Compulsiva.

Estes exemplos servem para que se possa compreender que as pessoas com este problema, com um tratamento adequado, são capazes de ter uma vida produtiva e bem sucedida.

António Raminhos - Actor e comediante que assumiu sofrer de perturbação obsessivo-compulsiva

Perturbação Obsessivo-Compulsiva — Quais os tratamentos disponíveis?

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode ser tratada recorrendo à terapia farmacológica e psicoterapia ou ambos em simultâneo. O tratamento da Perturbação Obsessivo-Compulsiva apresenta uma taxa de sucesso satisfatória.

Enquanto a investigação nesta área continua em desenvolvimento, os tratamentos de primeira linha mais indicados são:

  • Terapia farmacológica: os fármacos mais utilizados são os antidepressivos, nomeadamente os chamados Inibidores Selectivos da Recaptação de Serotonina (como a Sertralina, Escitalopram, Citalopram, Paroxetina, Fluoxetina ou Fluvoxamina).Quando estes falham, existem outras opções, como seja o antidepressivo clomipramina, ou adicionar fármacos como a Risperidona ou o Aripiprazol      
  • Psicoterapia:  A terapia com melhores resultados é terapia cognitivo-comportamental, entre outros, nomeadamente técnicas de exposição com prevenção de resposta.

Opta-se geralmente pelo medicamento, pela psicoterapia ou pela conjugação de ambos conforme o caso. Por exemplo, casos mais graves e/ou com sintomatologia depressiva podem beneficiar de medicação.

Por outro lado, casos mais ligeiros ou naqueles onde a pessoa demonstre essa preferência, podem beneficiar de começar pela psicoterapia.

Noutros casos, ou quando não respondem a um destes, pode tentar-se a conjugação de ambos.

  • Nos casos refractários, que correspondem a até 10% dos pacientes, existem terapias como a psicocirurgia e a estimulação cerebral profunda, que tem taxas de sucesso encorajadoras nestes casos.

Perturbação Obsessivo-Compulsiva — Como pode a Psicoterapia ajudar?

No âmbito da psicoterapia salienta-se a terapia cognitivo-comportamental como sendo a abordagem mais sustentada em termos de eficácia pela investigação na Perturbação Obsessiva-Compulsiva. Esta ajuda a pessoa a lidar com os seus pensamentos, emoções e comportamentos.

A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem psicológica baseada em princípios científicos e cuja investigação tem mostrado serem eficazes nas perturbações mentais assim como em problemas físicos, podendo ser utilizadas com crianças, adolescentes e adultos. Na terapia cognitivo-comportamental o doente e o terapeuta trabalham em conjunto para identificar e compreender os problemas do doente, nomeadamente pensamentos/cognições, emoções e comportamento.

Esta abordagem habitualmente incide sobre as dificuldades no aqui e no agora, estabelecendo uma visão partilhada do problema do indivíduo.

Esta abordagem utilizada pode ajudar qualquer pessoa, independentemente das suas capacidades, cultura, raça, género ou preferência sexual.

Esta terapia assenta essencialmente na mudança cognitiva, e na mudança do comportamento, ou uma combinação de ambas.

O objetivo da terapia consiste em habilitar o doente a criar soluções para os seus problemas, que sejam mais úteis e adaptativas do que a sua forma habitual de lidar com esses problemas.

O número de sessões necessário dependerá da natureza e gravidade do problema do doente.

Normalmente, as sessões são semanais, têm a duração de uma hora e são realizadas por um período de 10 a 15 sessões, no entanto a duração pode ser mais curta ou mais longa de acordo com os progressos alcançados.

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